quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Análise do debate - economia

(Aviso prévio: o teclado onde escrevo nao possui til, daí a sua ausência).

O conteúdo das declaraçoes de Rajoy passou fundamentalmente pelas críticas nos seguintes domínios: 10 % de défice da balança comercial de Espanha, valor por ele considerado alto; inflaçao específica de produtos de primeira necessidade; aumento da inflacao, durante os 4 anos de Zapatero, superior ao aumento do salário mínimo; valores absolutos do número de desempregados; aumento de 15 para 40 %, na percentagem de espanhóis, em sondagem, que vê negativamente a economia do seu país; crescimento económico e do emprego que se fez sentir foi herança do PP; Zapatero nao se deve esconder por detrás de dados macroeconómicos ou do debate anterior entre Solbes e Pizarro (respectivamente, Ministro da Economia e candidato ao mesmo lugar, e candidato equivalente do PP, tendo sido consensual a derrota do último); Solbes, também ministro no anterior Governo socialista que teve término em 1996, deixou o desemprego em 22 % tendo o PP conseguido reduzi-lo para 11,5 %.

Ora, na Economia, Rajoy apenas criticou o Governo do PSOE, nao apresentando NENHUMA proposta alternativa. Referiu a existência do programa económico do PP, apresentado em 2006, mas nao referiu NENHUM conteúdo do mesmo. Aliás, a falta de alternativa do PP está bem patente no facto, apresentado por Zapatero, de Rajoy, nos três debates do Estado da Nacao, ter dedicado a esta área apenas uma média de 3 minutos dos seus longos discursos.

Dedicar-se apenas à crítica e nao à apresentaçao de ideias, apenas ao "bota abaixo" e nao a construçao de uma alternativa, até nao seria tao negativo se, ao menos, as críticas fossem pertinentes. Mas, ao invés, a sua maioria foi perfeitamente rebatida por Zapatero.

O crescimento económico e a criacao de emprego foram maiores que os oito grandes países industrializados; a taxa de desemprego é a menor da história da democracia (abordar esta questao em termos absolutos, e nao relativos, é um erro obvio e propositado de Rajoy, com o objectivo do puro populismo, na atitude mais descarada de enganar os eleitores); o índice de inflaçao do última legislatura do PP foi de 3,4, considerada um sucesso por Rajoy naquela altura, sendo a do Governo Zapatero 3,2, considerada por Rajoy uma catástrofe, sendo, ainda para mais, o preço de petróleo e dos cereais três vezes superior, actualmente, ao que se fazia sentir na época de Áznar - este facto deita por terra o catastrofismo inflacionista em que Rajoy insistiu.

Para além de nao apresentar uma alternativa e da maioria das críticas de Rajoy ter saído derrotada, o candidato envolveu-se ainda em duas contradiçoes: 1) Disse que Zapatero nao devia "esconder-se" por trás de dados macroeconómicos, mas de seguida o próprio Rajoy mostrou a falsidade dessa afirmaçao - discutir este assunto sem recorrer a dados macroeconómicos é impossível - ao recorrer a inúmeros dados de macroeconomia; 2) Disse que o crescimento do emprego que se fez sentir foi herança do PP, mas também disse que havia destruiçao de emprego - em que ficamos, Rajoy? Há uma situacao boa, herança do PP, ou uma situacao negativa? Num subtil ataque de esquizofrenia, ambas as hipóteses foram defendidas pelo candidato. E ambas sao erradas: o facto é que a taxa de desemprego era de 11,5 % quando Zapatero iniciou funçoes, e agora é de 8,5, o valor mais baixo da democracia espanhola.

A falta de legitimidade de Rajoy resume-se ao seguinte: quando Zapatero começou o seu mandato, Rajoy exigiu ao Governo um crescimento económico de 3 % e a criaçao de 2 milhoes de empregos. Zapatero, em quatro anos, registou um crescimento económico de 3,7 % e criou 3 milhoes de empregos (metade para mulheres); o PP critica o Governo do PSOE, mesmo quando este ultrapassou as suas exigências.

Já nao pedimos a Rajoy que respeite Zapatero, pois a sua enorme crispaçao fez nos desistir da concretizaçao de tal vontade. Pedimos, apenas, que tenha um mínimo de auto-estima e respeite a sua própria palavra. Ou que, à sua esquizofrenia, nao se venha juntar a amnésia.


2 comentários:

marcos disse...

Identificaste aquele que foi, no meu entender, um momento-chave do debate: o final do bloco dedicado à economia. Zapatero atirou certeiro quando mencionou as palavras de Rajoy quanto à forma como iria ser avaliado o governo que então tomava posse: 3% de crescimento ao ano e a criação de 2milhões de empregos. Quatro anos passados, 3.7 de crescimento e 3 milhões de empregos criados... está-se a ver quem ganhou o debate da economia!

David Erlich disse...

Parece que a direita na oposiçao está fraquinha em toda a Península Ibérica. Espermos que os resultados de dia 9 comprovem a mina afirmaçao. Um abraço!